A minha melhor amiga, entendida em astrologias e afins, diz-me que as noites de lua cheia são de libertação. Não sei se por coincidência ou não, só agora voltei a estar sentada na minha varanda em silêncio, debaixo de lua cheia de novo, com vontade para partilhar o que me vai na alma.
São raros os momentos que tenho tido para estar só em reflexão e contemplação do que me rodeia. Praticamente inexistentes ultimamente. Talvez apenas por ser verão e por querer passar o tempo livre que tenho fora do Hospital com amigos e família em conversas e risotas, entre brindes e bailaricos. Quero passá-lo com o A., com quem me vou cruzando de manhã num corre-corre para a saída e me reencontro ao final do dia durante a semana, sendo que os fins-de-semana têm sido encurtados a um dia e não dois, ou mergulhados em celebrações e festejos vários e cheios.
Mas cá estou. Com tempo para estar sentada a sós na minha varanda, com o som dos grilos como fundo da minha consciência, a olhar as estrelas, depois de chegar das minhas doze horas de serviço de urgência e antes de embarcar noutras doze amanhã. Ufa.
Sinto-me tentada a partilhar umas palavras sobre a minha despedida de solteira do passado fim-de-semana. Não vou partilhar pormenores, prometo. Mas sinto vontade de deixar escrito estes que foram dos dias que mais me encheram o coração neste meu ano atribulado. Isto porque me apercebi ali que tenho uma rede de suporte tão grande e um núcleo tão bom e tão variado, que preenche tudo aquilo que sou. Que são pedaços de mim. Que tenho amigas todas elas diferentes e todas elas com um papel especial no meu caminho. Que tenho duas madrinhas, de quem não posso deixar de falar, que conhecem tão bem todas as partes de mim. Que se riem, dançam, asneiram, conversam e ficam em silêncio comigo e que fizeram estes dias acontecer.
Tenho de facto orgulho nas amizades que construí para a vida. Algumas de infância, outras de adolescência, outras da loucura da faculdade. Interessante como cada núcleo preencheu fases importantes do meu crescimento e do meu ser. Como me transformaram com experiências vividas, conversas tidas e lágrimas corridas. Todas elas muito diferentes, a preencherem vazios que me completam. E fiquei tão grata por, entre vidas atribuladas e horários desgastantes, entre férias e trabalhos, terem conseguido articular-se para me abraçarem durante estes dois dias.
Pela companhia da mesa do pequeno-almoço, com pão estaladiço, queijos e compotas; pelo mexer do corpo e na dança até doerem os pés e deixar acabar a bateria da coluna; pelo karaoke desafinado; pelos desafios propostos; pelo alinhar de uma ou outra loucura fora da caixa; pelas pinderiquices; pela envolvência da natureza; pelas conversas mais sérias (poucas...), pelas divagações mais mirambulantes, pelas reflexões sobre a vida, o mundo e o universo; pelas chamadas de atenção; pelas gargalhadas pelo absurdo; pela oferta de colo; pelo desporto e o movimento, no descer do rio de canoa a cantar "depois do rio o que é que vem?" da Pocahontas; pelas molhas inesperadas e por brincarem comigo como crianças; por se atirarem ao lago com cobras aquáticas, sem medo; por se terem dado a conhecer a quem não conheciam. Por se aceitarem nas diferenças. Por somente se deixarem estar, sem planos ou pressas. A desfrutar e a absorver os raios de sol no deck a rasgar o lago da floresta.
Por me terem posto um sorriso que esteve rasgado e estampado no rosto de início ao fim. Pelo tempo. Pelo carinho. Pelas que faltaram mas queriam ter lá estado.
São todas peças que completam o meu puzzle.
Obrigada às minhas amigas, de coração.
CroniCalinas
20.08.2021
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