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Foto do escritorCarolina Germana

A minha varanda


Acordo já tarde neste domingo dos namorados. Deixo-me ficar desperta na cama por um bocado, aninhada com o A., que dorme profundamente. Quando decido pôr-me a pé e abro a porta do quarto, vejo a luz que ilumina a casa, vinda de fora. Está sol.


O tempo esteve frio, escuro e chuvoso durante semanas a fio. Hoje são dez e meia e está sol na rua. Pego no meu computador e vou para a minha varanda.


É aqui que estou. Sentada na varanda de casa de Viana. Provavelmente pela última vez. Comecei a trabalhar em janeiro no Porto, mantendo a casa de Viana por mais dois meses, para ir transitando aos poucos. Hoje é o penúltimo dia de mudanças e esta terra decidiu abrir os céus, presenteando-nos com sol quente.


Sopra um vento fresco, mas não gélido, com a intensidade suficiente para saber bem o esvoaçar do cabelo. Estou ainda de pijama e a pele descoberta das mãos, face e pescoço sente o calor dos raios de sol.


Inspiro este ar puro a olhar o horizonte e a ouvir a melodia das andorinhas que rasgam o azul do céu. Oiço o som do mar atribulado a acompanhar, com o rebentar das ondas.


Que bom estar aqui. Na minha varanda.


Se fosse escolher o meu lugar preferido do ano de 2020, seria este.


Foi daqui que assisti às transições das estações. A chuva, as flores, o calor, o cair das folhas e o frio chegar. Foi daqui que vi as cores do mar e do prado mudar e ouvi os pássaros cantar. Foi esta minha varanda que foi palco de fins de tarde de treinos ou de copos de gin. Foi onde me sentei a apanhar sol ou enrolada em mantas. Onde o vi mergulhar no mar, dias e dias seguidos, a pintar o azul de cores quentes.


Foi onde dei as boas-vindas ao dia e me despedi para a noite. Foi onde vim respirar depois de dias atribulados. Onde senti o vento me acalmar e o mar me tranquilizar.


Foi nesta varanda do alto do segundo andar, rodeada de casas brancas geminadas, que vi famílias apanhar ar, o cão do vizinho passear, e as crianças a brincar.


Foi esta varanda que me inspirou a voltar a escrever e onde viajei para dentro de mim. Que assistiu a grandes transformações e acompanhou importantes mudanças.


Hoje é dia 14 de fevereiro. Não costumamos festejar propriamente o dia dos namorados, eu e o A.. Mas hoje será um dia que ficará gravado nas nossas memórias, mais uma de tantas que esta varanda e esta casa nos deu. Num ano atípico e desafiante como foi o passado, foi no conforto deste lugar que fomos sendo felizes no meio do caos e da incerteza, vivendo um dia de cada vez.


Hoje é dia de celebrar o amor. E foi aqui que, recheados de partilha, diversão, conquista e perdão, fomos vencendo batalhas e ficando mais fortes. Ao som do vento, com vista mar.


Está na hora de sair da minha varanda. Há panquecas na mesa. Vou acordar o A..

 

Diário de uma pandemia 14.2.2021

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